(Prefazione in portoghese)

Quando as sebes rudes são sebes da alma, quando o mar é aquela alcofa que embala o sonho de um bebé, aqueles abismos marítimos ou aquela âncora do mar dos desejos dentro dos olhos espantados da criança, o papel que acolhe estas emoções é um papel precioso, compactado de prensa inexorável e impiedosa da existência. É um papel que, impregnado de humor, de subtil afã, do choro em pensamento e pirilampos lacrimejantes, do perfume da nature- za e da coisa amada, se anima, se acende, ganha vida.

É um papel odoroso onde o doce perfume se funde com o amar- go; um papel que se coloca entre a árvore rosada da amêndoa em flor, entre a moita do alecrim selvagem, entre a acre e suave fragrância do campo após a vindima, entre aquele amaranto do Outono, até ao odor perdido, íntimo, eterno, de um amor que não se pretende esquecer.
Quando os animais têm temor ou medo procuram abrigar-se no covil, bem escondidos e o homem também o faz, só que se refugia da realidade, distante do mundo; como se não bastasse e, mais do que isso, criaturas são atingidas no profundo da sua alma e vão à procura de lugares de consolação, através de uma viagem imaginária, pelo interior do seu subconsciente.

São estes lugares visionários, entre o pesadelo e a realidade, entre a angústia e a impotência; lugares habitados por seres que enove- lam o estado de alma, de grave incómodo.

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